sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O DRAMA DO HOMEM


"E toda a mulher é uma mãe, real ou potencial"

(O homem é, com efeito, um ser incompleto e tem consciência disso. )

"À força de rejeitar tudo o que a feminilidade representava como solução para a angústia do homem, criou-se uma humanidade perfeitamente neurótica, pois se o rapazinho é obrigado a praticar este acto é porque não lhe vestiram na mais tenra idade uma veste feminina, como se fazia antigamente. Uma concepção estúpida e formal da virilidade impediu a continuação desta prática que, com origem em motivos inconscientes, era muito mais válida que a destruição do amor que educadores desprovidos de educação tentam levar a cabo, criando uma suposta educação sexual.

É, uma vez mais, toda a nossa sociedade que está em causa. A masculinização da sociedade conduziu a ignorar aquilo que constitui o próprio fundamento de toda a relação psicossocial, a saber, os laços afectivos que unem os membros duma mesma família, dum mesmo clã. E estes repousam muito particularmente na relação mãe-filho (rapaz ou rapariga). Suprimindo a noção de Mãe-Divina, ou submetendo-a à autoridade dum deus-pai, desarticulou-se o mecanismo instintual que estabelecia o primitivo equilíbrio. Daí provêm as neuroses e outros dramas que transtornam as sociedades paternalistas, incluindo aquelas que se consideram mais evoluídas, aquelas que pretendem, com belas palavras, atribuir à mulher um lugar de honra, um lugar escolhido pelo homem. Na verdade, o homem não pode escolher o lugar da mulher nem o seu próprio lugar face à mulher. Ele deve obedecer a uma lei inelutável, que é, para retomar a definição de Montesquieu, uma lei de natura, contra a qual a lei da razão nada pode. Esta lei de natura concretiza-se no instinto, que não é algo que possamos negar. Negá-lo, como fizeram tantos moralistas e psicólogos, antes de Freud, é abrir a via dos desregulamentos psíquicos, porque todo o comportamento se ressente do facto de não estar apoiado na lei natural.
Esta querela entre natureza e razão, que de resto sempre foi uma falsa questão, é responsável pela cegueira desta sociedade que, ao querer corrigir o instinto, cortou o ser humano daquilo que era a sua natureza.
A verdade é que o instinto não se corrige. Sublima-se, transcende-se, e isso graças a uma razão que o dirige, mas que em caso algum o deve encerrar em limites estreitos e negá-lo. E o instinto assusta, porque é forte e porque é inelutável. Este estudo sistemático do princípio feminino na cultura celta tem pelo menos o mérito de trazer à luz da consciência a ideia de que o instinto é primordial, no sentido etimológico do termo, que ele é necessário, que é um factor de progresso e de evolução.
Mas o instinto tem algo de selvagem, de “bárbaro”, mesmo. E é por aí que ele atinge a “grandiosidade”. Ele é o único motor dos nossos sentimentos, da nossa acção. E, tendo em conta os nossos hábitos morais, é por vezes difícil formulá-lo e olhá-lo de frente: a verdade choca-nos. Quando ousamos afirmar que todas as relações entre homens e mulheres, quaisquer que elas sejam (conjugais, filiais ou outras) são necessariamente relações incestuosas entre mãe e filho, atraímos as mais ásperas críticas e somos tidos por obcecados. E no entanto…

O homem é, com efeito, um ser incompleto e tem consciência disso. O seu medo e a sua atracção pelo abismo negro (o nada de onde provém), o seu medo e a sua vertigem diante da morte (o nada que o espera) tornam-no um ser frágil que procura a segurança a todo o custo. Essa segurança é a mãe, tanto para o homem como para a mulher. Mas o homem, física e afectivamente, possui um meio de reentrar, pelo menos provisoriamente, na mãe. Não é preciso insistir: qualquer tendência da psicanálise já esclareceu suficientemente bem que o pénis, pequena parte do homem, mas uma parte exterior e susceptível de aumentar, constitui o substituto do próprio homem. Ele pode, portanto, em certas ocasiões, reactualizar de modo fantasmagórico o regresso ao paraíso que a mãe representa.
E toda a mulher é uma mãe, real ou potencial. O homem está portanto biologicamente sujeito à mulher, quer ele queira quer não. Ele é o conteúdo, enquanto a mulher é o continente: isso constitui um estado de inferioridade muito óbvio para o homem e ele passará depois todo o seu tempo a negar tal realidade para provar a si próprio que é superior. É assim que se explica a acção masculina, o facto dos homens serem dotados para a acção, para a violência e o combate. Esta acção é o único meio que lhes resta para tentarem afirmar-se.

E se o homem é o conteúdo, portanto um ser inferior, ele arroga-se o direito dum ser superior, mostrando que a sua força activa é a única capaz de proteger a espécie. Até conseguiu persuadir a própria mulher dessa superioridade, simbolizada pelo reconhecimento do pénis do rapazinho no momento do nascimento, feito pela mãe ou por qualquer outra mulher que ajude no parto. O famoso grito: “É um rapaz!”, repetido geração após geração, é bastante eloquente a esse respeito. Quando nasce uma rapariga, aceita-se; mas quando nasce um rapaz, rejubila-se.

No entanto, o continente, a mãe, que é o mesmo que dizer a mulher , é a própria realização do Paraíso. Ela realiza-o sob dois aspectos duma mesma realidade: ela contém o filho e o amante. De resto, como alguns psicanalistas já referiram, a vagina da rapariga não é reconhecida pela mãe, nem pelo pai, no momento do nascimento. Tal reconhecimento far-se-á, no entanto, um dia, e será o homem a efectuá-lo. Assim, para se afirmar, para tomar consciência de quem é e sobretudo do seu poder, a mulher precisa do homem. Traduzido em linguagem mitológica dá: o homem precisa duma deusa, mas a deusa precisa do homem. É esta a razão pela qual se perpetuaram, sob formas diversas, os antigos cultos da divindade feminina.

Na cultura celta, vimo-la sob os seus diferentes aspectos, ou melhor, sob as diferentes máscaras que os homens lhe atribuíram. Todos os nomes que lhe foram dados, entretanto, não nos devem fazer esquecer que se trata dum ser único, da mãe primordial, da primitiva deusa, da grande rainha dos começos."

Jean Markale, “La Femme Celte”, Petite Bibliothèque Payot (traduzido por Luiza Frazão)


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Os animais racionais dirão que isto é "Ficção científica" pura...

Nota - escrevi este texto em 2013 e parece-me premonitório...


A MANIPULAÇÃO MENTAL, FÍSICA E QUÍMICA DA MULHER

...desde a Vénus de Hotentote até agora...


As mulheres foram manipuladas física e psicologicamente durante centenas de anos pelos patriarcas das Igrejas e dos Estados e mais recentemente essa manipulação atingiu foros de manipulação "genética" quase, na intervenção de uma "ciência" e descoberta "preventiva" contra as doenças "típicas" da mulher; mas na verdade o que elas são é meios de obstrução e controlo da mulher, impeditivas da grande transformação natural e biológica que a mulher vive na adolescência e na Menopausa e assim, anulada no seu potencial de grande mediadora das forças cósmica e telúricas, portadora de uma sabedoria inata e transformadora da sociedade, a mulher é assim controlada quimicamente através de medicamentos. Convém manter as mulheres caladas e anuladas e para isso o MEDO da doença e da morte deve ser instigado, para além da submissão não aos padres, mas aos médicos...

Essa "ciência" maquiavélica e os ditos medicamentos "preventivos", considerados e publicitados para o bem estar da mulher, para a "libertação" dos males da natureza...foram quase todos meios de anular ou impedir o natural despertar e a evolução da Consciência da Mulher em si ou da integração das duas mulheres cindidas em duas, a mulher instintiva e intuitiva e a mulher racional, impedindo o seu discernimento através de químicos e operando-a retirando-lhe o Útero ou os ovários - sede de poder da mulher - assim como à mais leve suspeita "cancerigena" lhe cortam os seios, tornando-a uma espécie de marioneta da ciência e ainda pior do que isso induzindo-a a mutilar o seu corpo por vontade própria para corresponder a padrões de beleza estética falsa, negando ainda a beleza natural da idade.

Toda esta Manipulação da Mulher psíquica, física e química, é possível através da difusão de medos instigados pelos Media, baseados numa Cultura de Morte em vez de uma Cultura de Vida, negando os ciclos da natureza do ser mulher e da vida da Terra e do Planeta.



"Nesse contexto, um caso pode ser considerado paradigmático: a 'Vênus Hotentote'. Argumentamos que a negociação política do status ontológico de Sara Baartman, durante os séculos XIX e XX, representa precisamente tal esforço para estabelecer as fronteiras de civilidade mediante a circulação e a exclusão de corpos incivilizados."

O monstruoso: visibilidade e trânsito

A epígrafe que abre este ensaio sintetiza alguns motivos pelos quais elegemos o corpo monstruoso como imagem que sintetiza algumas de nossas preocupações teóricas. Primeiro,o conteúdo misógino do Malleus Maleficaram, manual da Inquisição que levou à perseguição e à morte mais de 100 mil mulheres em quatro séculos, é aqui apresentando nos termos de uma relação entre ver e ser visto; entre controlar e ser controlado pelo olhar; entre a possibilidade do domínio de homens ou de monstros; entre tornar alguém objeto ou tornar-se objeto deste alguém. Ver, nesse contexto, significa a possibilidade de controlar. Ser visto significa a iminência de ser destruído - pois tornar-se objeto e ser destruído aqui significam a mesma coisa.

(...) Jonatas Ferreira; Cynthia HamlinI


A verdade é que a mulher foi sempre a mais directa vítima da ciência, cobaia das mais insanas e abjectas experiências, por parte de médicos e cientistas, sem pejo de atentar contra a sua integridade física ou moral. Tanto a pírula como os medicamentos em geral para "prevenir" os "distúrbios" da idade, são atentados à saúde psíquica e sobretudo à saúde anímica da mulher e impeditivos de uma evolução natural interior que se reflectiria em mudanças de atitude social do ser mulher. A mulher livre e sábia, a mulher independente foi na Idade Média perseguida e queimada como bruxa...Hoje na "idade moderna"...o mundo patriarcal, age com o mesmo intuito, e através dos químicos e da ciência faz a mesma coisa: mata o potencial da mulher, invalidando e obstruindo o despertar natural da sua consciência na menopausa para que a mulher não use a sua Voz de Justiça e Verdade, para que a mulher não se tornasse naturalmente a Voz da sabedoria...

O poder das Mulheres é interior e nada melhor para o destruir do que impedir essa evolução natural através do Medo da Morte e da perda de Beleza e consequentemente também da perda do "amor" do homem, se ela não corresponder aos padrões de beleza e de juventude que ele lhe impõe...quando afinal é exactamente o contrário que acontece: a beleza da mulher atinge a sua maturidade com a idade....
Os médicos são em grande parte uma espécie de Magos Negros ao serviço de uma Indústria Farmacêutica que tem o Monopólio da Manipulação humana e não a sua cura ou salvação das verdadeiras doenças. Não sabemos ainda para onde avança essa ciência macabra mas ela é de certeza contra a Vida e a Ordem Natural das coisas...como o é já a manipulação genética, o transplante de órgãos e a sua consequente e criminosa venda e roubo de órgãos humanos por dinheiro...

Através de toda essa "Ciência" e dos químicos em geral até à implantação de Chips nos seres humanos, não saberemos onde chegarão...a Humanidade é manipulada ao mais alto nível enquanto que os Media e os Estados fazem o seu trabalho de "sapa" (de casa) - de acordo com os seus governantes - criando medos através de ameaças generalizadas de Pandemias e Pestes como na Idade Média...Gastam-se milhões de euros para prevenir Pandemias e Pestes que simulam que nos ameaçam e as pessoas vão comprar como carneiros e tomar as pírulas inventadas e quem sabe...mais uma forma de manipulação química da Vontade e da Consciência do ser humano em evolução à escala do Planeta...


R.L.P.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

onde os homens NÃO ENTRAM



O QUE É O SEXISMO  

"O sexismo é uma ideologia homeopática terrivelmente eficaz. Infiltra-se no terreno e assume discretamente a função de qualquer ideologia influente: confortar o dominante justificando o seu domínio, e convencer @ dominad@ que ocupa, de forma perfeitamente justa, o lugar que lhe cabe. Temos assim a confirmação, dia após dia, que os homens não têm culpa e as mulheres não têm capacidade. Desculpabilização para uns, alienação para umas: o Sistema já está rodado. Ego inchado para os primeiros, falta de auto-estima para as eternas segundas."*

RESPOSTA A UM DOUTORADO QUE OPINOU SOBRE O LIVRO DE LILITH - O MEU...


Este livro é uma fantasia … É! E OS HOMENS não precisam de o levar a sério. Mas se quiserem as respostas estão todas nele - para quem quiser ler de boa fé, digo visionariamente, como um augúrio - e onde digo claramente que não tem qualquer base ou argumentação cientifica nem histórica nem sequer pretensão literária - não, não tem bases "credíveis" nem datas exactas, consensuais, e onde digo e afirmo convictamente que tudo o que nós humanos sabemos e conhecemos da História do Homem e da Mitologia ou Religião patriarcal para MIM SÃO MERA FICÇÃO e erro...Tudo o que conhecemos como verdade no mundo é ficção e mesmo as datas e os milénios do antes e depois dos quais nada, mas nada sabemos ao certo e portanto esta é a minha ficção…Este não é um livro para homens eruditos nem conhecedores ou obviamente patriarcais - é um livro escrito (ficcionado se quiserem), talvez surrealista a partir da minha experiência de MULHER e onde os homens NÃO ENTRAM porque como é obvio não entendem nada, de facto de mulheres…Lilith é uma experiência no amago da mulher e nenhum homem a pode entender intelectualmente. Entendam-se com as vossas datas e os factos. Não pretendo provar nada! SE Lilith tem 5 mil anos ou 3.500 ou pertence a idade media...ou se nasce antes de Eva, etc. ...ou talvez seja a própria Innana vinda de Nibiru com os anunakis...ah ah a (a minha sósia é coatora do livro e ela é bruxa-vidente) - sim é um livro pouco sério… é só para mulheres e por isso os homens que não sejam sensíveis e de "coração puro" escusam de ler...vão se indignar e sentir muito ofendidos no seu ego - e assim não vale a pena perderem tempo com ele. Sim, não sabemos que idade tem as tabuinhas da Suméria e todas essas tretas juntas que nos contam as biblias e os corões e os talmudes e os deuses deles, os eloins e os nifelins e os demónios dos místicos e ascéticos nem o que os académicos e estudiosos e os teólogos (oh la la) analisam com o seu pequeno cérebro. O livro não tem nada a ver com as vossas contas de cabeça nem os vossos mitos de crianças e heróis…nem com os vossos doutoramentos!

Para mim os críticos e os analistas das obras dos outros deviam escrever as suas ficções...e poemas e coisas assim ao vento. O vosso trabalho muito sério não me concerne e as vossas fontes tão pouco. Só a vida e só a experiência directa para além dos 5 sentidos (corpo-alma -espirito) nos dá acesso ao conhecimento seja ele do que for. Não vale a pena eu citar autores nem autoras fidedignas que tenham outra ideia diferente da vossa porque já SENTI a vossa onda - sabemos que o que farão é sempre afirmarem-se como os únicos detentores da verdade. Portanto até podia discutir muitos pontos de vista mas não debato ideias e menos ainda datas, nem respondo a questões teóricas ou retóricas...o livro foi escrito para mulheres não patriarcais nem machistas ou feministas... Sim, sim o livro é uma pura FANTASIA… Para mim Lilith é apenas uma consciência da mulher a despertar...e não de qualquer mulher. Por isso não se preocupem as cabecinhas pensadoras… há tantas historinhas por ai…
Enfim, também agradeço as questões mas desde logo não são muito bem intencionadas, diz-me a minha sósia. Querem apenas gerar polemica e trazer a verdade e desconstruir a mulher, sempre fantasista e histérica e imprecisa e que não diz coisa com coisa...mas eu sou velha meus queridos, e Bruxa… assumida, pouco me importa o que vocês estudiosos e doutores do assunto pensam.
rosa leonor Rosa Leonor Pedro Lilith

Deixo aqui hoje as palavras de há 2 anos de uma grande mulher que partiu: Paula Pão Alvo
Maravilhosa resposta
Não existe qualquer esperança nos nossos corações, para que esses homens com complexos de inferioridade, venham a entender um livro que foi escrito com o coração e com os segredos soprados aos ouvidos da sua alma.
Para mim cada palavra dele enche o meu coração e alma de pura vibração de êxtase, ADOROOOOOO-O






*Isabelle Alonso
in Todos os homens são iguais...mesmo as mulheres.


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A criação do patriarcado:



A criação do patriarcado
Gerda Lerner

Capítulo 11


A criação do patriarcado:


O patriarcado é uma criação histórica formada por homens e mulheres em um processo que durou cerca de 2500 anos para ser completado. Na sua forma inicial o patriarcado apareceu como um estado arcaico. A unidade básica de organização foi a família patriarcal, que expressaram e geram constantemente suas regras e valores. Nós vimos como definições integrais de gênero afetaram a formação do estado. Vamos revisar brevemente como o gênero foi criado, definido e estabelecido. O papel e comportamento considerado apropriado para os sexos foram expressados em valores, costumes, leis e papéis sociais. Eles além disso, e muito importante, foram expressados em metáforas, que se tornaram parte da construção cultural e do sistema explicativo. A sexualidade da mulher, consistindo de sua capacidades sexuais, reprodutivas e seus serviços foi transformado em mercadoria antes mesmo na criação da civilização ocidental. O desenvolvimento da agricultura no período neolítico abrigou a “ troca de mulheres” entre tribos, não apenas para evitar o incessante estado de guerra através da aliança por casamentos, mas também pois uma sociedade com mais mulheres poderia produzir mais crianças. Em contraste com a necessidade econômica das sociedades caçadoras/coletoras, a agricultura poderia usar o trabalho de crianças para aumentar a produção e acumular excedentes. Homens-como-um-grupo tinham direitos sobre as mulheres como mulheres-como-um-grupo não tinham direitos sobre os homens. As mulheres em si se tornaram um recurso, adquiridos por homens tanto quanto a terra era adquirida por homens. Mulheres foram trocadas ou compradas em casamentos para o benefícios de suas famílias; mais tarde elas foram conquistadas ou compradas na escravidão, onde seus serviços sexuais eram parte do seus trabalhos e onde suas crianças eram propriedades do seu mestre. Em toda sociedade conhecida foram as mulheres de tribos conquistadas as primeiras a serem escravizadas, onde os homens eram mortos. Foi apenas depois dos homens terem aprendido como escravizar de grupos que poderia ser definidas como estranhas, que eles aprenderam como escravizar homens desses grupos e , após, subordinar de suas próprias sociedades. Portando, a escravização das mulheres, combinando ambos racismo e machismo, precedeu a formação da classe e das opressões de classes. As diferenças de classes foram no seu início expressada e construída em termos de relações patriarcais. Classe não é uma construção separado do gênero, em vez disso, classe é expressada em termos de gênero. No segundo milênio antes de cristo nas sociedades mesopotâmicas, as filhas dos pobres eram vendidas para o casamento ou para a prostituição para satisfazer o interesse econômico de suas famílias. As filhas dos homens que possuíam propriedades poderiam pedir um preço pela noiva, pago pelo família do noivo para a família da noiva, o que frequentemente assegurava para a família da noiva mais vantagens para os casamentos dos filhos, melhorando a posição econômica da família. Se um marido ou pai não pudesse pagar a sua dívida, sua esposa e crianças poderiam ser usadas como peões , se tornando escravos por dívidas de seus credores. Essas condições eram tão firmemente estabelecidas no ano de 1750 A.C. que o código de Hamurábi faz uma melhora decisiva no lote de peões devedores, limitando os termos de serviços por três anos, quando anteriormente era para a vida toda. O produto dessa transformação da mulher em mercadoria – preço da noiva, preço de venda, e crianças - foi apropriado pelos homens. Pode perfeitamente representar a primeira acumulação de propriedade privada. A escravização da mulheres conquistadas de tribos não apenas se tornou símbolo de status para nobres e guerreiros, mas certamente habilitou os conquistadores de adquirir riquezas através de venda ou troca de produtos das escravas de trabalho e seus produtos reprodutivos, as crianças escravizadas. Claude Lévi-Strauss de quem nós tiramos o conceito de “a troca de mulheres”, fala da reificação da mulher, que ocorreu como consequência. Mas não foram as mulheres que foram reificadas e transformadas em mercadoria, foi a sexualidade da mulher e sua capacidade reprodutiva. A distinção é importante. Mulheres nunca se tornaram uma ‘coisa’ nem assim foram percebidas. Mulheres , não importam o quão exploradas e abusadas, retiveram seu poder de agir e de escolher da mesma forma, e frequentemente numa extensão muito limitadas, como homens de seus grupos. Mas as mulheres sempre e até hoje vivem em um relativo estado de não-liberdade que vivem os homens. Desde de que sua sexualidade, um aspecto dos seus corpos, foi controlado por outros, mulheres não apenas estavam em desvantagens mas psicologicamente restringidas e suas maneiras especiais. Para mulheres e para homens de grupos subordinados e oprimidos , a história consiste em suas lutas por emancipação e liberdade por necessidade. Mas as mulheres lutaram contra diferentes formas de opressão e dominância que os homens, e as lutas delas, até os dias de hoje, ficou atrás das lutas dos homens. O primeiro papel de gênero social para as mulheres foi o de ser trocada em transações de casamento. O papel observado para homens foi de ser os que fazem as transações ou os que definem os termos da troca. Outro papel de gênero definido para as mulheres foi o de esposa “dona de casa”, que foi estabelecido e institucionalizado para mulheres de grupos da elite. Esse papel deu para essas mulheres poder e privilégios consideráveis, mas depende de sua ligação com os homens da elite e é baseado minimamente nas performances satisfatórias na prestação de serviços para esses homens nos serviços reprodutivos e sexuais. Se uma mulher falha nessas demandas, ela é trocada rapidamente e consequentemente perde todas os seus privilégios e status. O papel de gênero de guerreiros levou os homens a adquirir poder sobre homens e mulheres de tribos conquistadas. Tais conquistas induzidas por guerras normalmente ocorriam entre pessoas diferentes dos vitoriosos seja por raça, etnia ou simplesmente diferenças tribais. Numa análise final da origem, ‘diferença’ como uma marca entre conquistados e conquistadores foi baseado na primeira diferença observada, sendo a diferença entre sexos. Homens aprenderam como impor e exercitar o poder sobre pessoas minimamente diferentes deles mesmo nas primeiras trocas de mulheres. E fazendo isso, homens adquiram o conhecimento necessário para elevar as “diferenças” de qualquer tipo de critério para dominância.


Desde o início da escravidão, a dominância de classe tomou formas diferentes entre homens e mulheres: homens eram primariamente explorados como trabalhadores, mulheres foram sempre exploradas como trabalhadoras, como provedoras de serviços sexuais e como reprodutoras. Os registros históricos de todas as sociedades escravizadas oferece evidência para essa generalização. A exploração sexual das mulheres de classes mais baixas por homens das classes mais altas pode ser mostradas na antiguidades, no feudalismo, nas casas burguesas dos séculos 19 e 20 na Europa, na complexa relação entre sexo e raça entre mulheres de países colonizados e os homens colonizadores. Para mulheres, a exploração sexual é a própria marca de sua exploração de classe. A qualquer momento da história, cada ‘classe’ é constituída de duas classes distintas – homem e mulher. A posição de classe da mulher se tornou consolidada e atualizada através de suas relações sexuais. Elas sempre foram expressadas dentro de graus de não-liberdade dentro de um espectro que de um lado é a mulher escravizada, na qual a capacidade reprodutiva e sexual foi transformada em mercadoria assim como ela; passando pela escrava-concubina , que a performance sexual pode elevar seu status ou de suas crianças; e então para a esposa “livre”, em que os serviços sexuais e reprodutivos para um homem da elite a garantem direitos legais e de propriedade. Enquanto cada um desses grupos tem obrigações e privilégios bem diferentes em relação à propriedade, lei e recursos econômicos, eles dividem a não-liberdade de serem controlados pelos homens reprodutivamente e sexualmente.
Nós podemos expressar da melhor maneiras a complexidade dos variados níveis da dependência e da liberdade das mulheres comparando cada mulher com seu irmão e considerando como as oportunidades e a vida da irmã e do irmão serão diferentes. A classe para os homens foi e é baseada no seus relacionamentos com os meios de produção: aqueles que detém os meios de produção poderiam dominar aqueles que não detinham. Os donos dos meios de produção também adquiriram as mercadorias dos serviços sexuais femininos, tanto das mulheres de sua própria classe como das classes subordinadas. Na antiga mesopotâmia, na antiguidade clássica, e em sociedades escravizadas, homens dominantes também adquiriram, como propriedade, o produto da capacidade reprodutiva de mulheres subordinadas - as crianças, para serem trabalhadoras, trocadas, casadas, ou vendidas como escravas, como convinha o caso. Para mulheres a classe é mediada pelo seus laços sexuais com um homem. É através dos comportamentos sexuais que elas ganha acesso a classe.
“Mulheres respeitáveis” ganham acesso para a classe através dos seus pais e maridos, mas quebrar as regras sexuais podem às tirar desta classe. A definição sexual de “desviada” marca uma mulher como “não respeitável”, que de fato a coloca na mais baixa classe possível. Mulheres que recusam serviços sexuais (como mulheres solteiras, freiras, lésbicas) estão conectadas com os homens dominantes pela suas famílias de origem e através deles ganham acessos a recursos. Ou, em alternativa, elas são rebaixadas. Em alguns períodos históricos, conventos e outros locais para mulheres solteiras criaram locais protegidos nos quais tais mulheres poderiam funcionar e reter sua respeitabilidade. Mas a vasta maioria das mulheres solteiras são por definição, marginais e dependentes da proteção dos parentes masculinos. Isso é verdade através da história até meados do século XX no mundo ocidental e ainda é a realidade na maior parte dos países subdesenvolvidos hoje. O grupo de mulheres independentes, e auto sustentável que existe em todas as sociedades é pequeno e altamente vulnerável ao desastre econômico. Opressão econômica e exploração são baseadas na mercantilização da sexualidade feminina e na apropriação por homens do poder de trabalho das mulheres e do poder reprodutivo delas, assim como a sua direta aquisição de recursos e pessoas. O arcaico estado do Antigo Oriente emergiu no segundo milênio A.C. das raízes da dominância sexual masculina sobre as mulheres e da exploração de alguns homens sobre outros. No seu começo, o estado arcaico foi organizado de tal maneira que a dependência do chefe de família ao rei ou à burocracia do estado foi compensada pela sua dominância nas famílias. O chefe da família aloca os recursos da sociedade para a suas famílias da mesma maneira que o estado alicia os recursos da sociedade para eles. O controle do homem chefe da família sobre os parentes femininos e filhos menores era tão importante para a existência do estado assim como o controle do rei sobre os seus soldados. Isso é refletido nas várias compilações das leis mesopotâmicas, especialmente no grande número de leis lidando com a regulamentação da sexualidade feminina. A partir do segundo milênio A.C. em diante o controle sobre o comportamento sexual dos cidadãos tem tido um grande significado de controle social em todos os estados da sociedade. De modo inverso, a hierarquia de classe é constantemente reconstituída dentro da família através de dominância sexual. Independente do sistema político ou econômico o tipo de personalidade que pode funcionar em um sistema hierarquizado é criado e cuidado dentro de uma família patriarcal. A família patriarcal tem sido incrivelmente resiliente e variada em diferentes tempos e locais.
O patriarcado oriental incorporou a poligamia e manteve as mulheres presas em harems. Patriarcado na antiguidade clássica e no desenvolvimento da Europa foi baseado na monogamia, nas suas formas de duplo padrão sexual, que não é vantajoso para as mulheres, é parte do sistema. No estado industrial moderno, como os Estados Unidos, as relações de propriedades dentro da família desenvolveram linhas mais de igualdade do que as que o pai possui poder absoluto, mas nas relações econômicas e sexuais dentro da família não mudaram necessariamente. Em alguns casos, relações sexuais são mais iguais, enquanto as relações econômicas mantém-se patriarcais; em outros casos o padrão se reverte. Em todos os casos, no entanto, tais mudanças dentro da família não altera a dominação masculina no ambiente público, nas instituições e no governo. A família não apenas reflete a ordem do estado e educa as crianças a seguir ele, mas também cria e constantemente reforça essa ordem. Deveria ser notado que quando falamos em melhoras no status da mulher dentro da sociedade, ela frequentemente significa apenas que estamos vendo melhoras em algum grau onde a situação oferece oportunidade de exercer alguma influência dentro do sistema do patriarcado. Quando mulheres têm relativamente mais poder econômico elas têm algum tipo de controle sobre suas vidas que em sociedades onde não tem poder econômico nenhum. Similarmente a existência de grupos de mulheres, associações, ou redes de serviços econômicos servem para aumentar a habilidade das mulheres de agir contra a ditadura patriarcal que age particularmente. Alguns antropologistas e historiadores chamou essa melhora relativa de “liberdade”. Essa designação é uma ilusão e injustificável. Reformas e mudanças legais, enquanto amenizam a condição da mulheres e é necessário para a o processo de emancipação, não irá mudar o patriarcado em sua base. Tais reformas precisam ser integrada dentro de uma revolução cultural vasta na condição de transformar o patriarcado e então abolir ele. O sistema patriarcal funciona apenas com o cooperação das mulheres. Essa cooperação é assegurada de maneiras diversas: doutrinação de gênero; privação de educação; a negação às mulheres sobre sua história; divisão das mulheres, uma das outras, pela definição de “respeitáveis” e “degeneradas” de acordo com a atividade sexual das mulheres; por restrições e coerção completa; por dicromiação no acesso de recursos econômicos e de poder político; e por garantir privilégios de classe à mulheres que conformam com as regras. Por quase quatro mil anos mulheres têm moldado suas vidas e agido debaixo do guarda-chuva do patriarcado, especificamente na forma melhor descrita do patriarcado como a dominância paternalista. O termo descreve uma relação de um grupo dominante, em que a dominância é mitigada por obrigações mútuas e direitos recíprocos. O dominado troca sua submissão por proteção, trabalho não remunerado por subsistência. Na família patriarcal, responsabilidades e obrigações não são igualmente distribuídas entre os que são para ser protegidos: os filhos homens são temporariamente subordinados à dominância do pai; ela dura até quando eles se tornam chefes de famílias. A subordinação das filhas e esposas dura a vida toda. Filhas podem escapar se apenas elas se colocarem enquanto esposas sob a dominância/proteção de outro homem. A base do paternalismo é um contrato não escrito de troca: suporte econômico e proteção dada por um homem, em troca de subordinação em todos os aspectos, serviços sexuais, e serviços domésticos não remunerados dados pelas mulheres. Ainda sim o relacionamento frequentemente continua de fato e na lei, até quando o homem não cumpre a sua parte da obrigação. Foi uma escolha racional para as mulheres, em condições de falta de poder e dependência econômica, escolher protetores fortes para elas e suas crianças. Mulheres sempre dividiram os privilégios de classe dos homens de sua classe enquanto elas estiverem sob “proteção deles” . Para mulheres, outras além das de classes mais baixas, o “acordo recíproco” ocorria dessa maneira: em troca de sua subordinação sexual, econômica, política e intelectual aos homens, vocês podem dividir o poder dos homens de sua classe em explorar homens e mulheres de classes mais baixas. Na sociedade de classes é difícil para pessoas que tenham algum poder, mesmo que limitado e restrito à algo, possam se ver como também privadas e subordinadas. Privilégios de raça e classe servem para rebaixar a habilidade da mulher de ver elas mesmas como parte de um grupo coerente, já que as mulheres diferente de todos os outros grupos oprimidos, ocorrem em todos os estratos da sociedade. A formação do grupo de mulheres conscientes têm de proceder através de diferentes linhas. Esta é a razão porque formulações teórica, que foram apropriadas por outros grupos oprimidos, são tão inadequadas em explicar e conceitualizar a subordinação das mulheres.


Mulheres durante milênios participaram do processo de sua própria subordinação porque elas foram moldadas psicologicamente para internalizar a ideia de sua própria inferioridade. A falta de conhecimento da própria história de luta e sucesso tem sido um dos maiores meios de manter as mulheres subordinadas. A conexão da mulher com a estrutura familiar fez com que qualquer desenvolvimento de solidariedade feminina e grupos coesos fossem extremamente problemáticos. Cada mulher individualmente está ligada ao seu parente masculino na sua família de origem através de laços que implicam obrigações específicas. A sua doutrinação, desde criança, enfatizam a sua obrigação não apenas na contribuição econômica para os parentes e para o ambiente familiar mas também para aceitar o parceiro a partir do interesse da família. Outra maneira de dizer é que o controle sexual das mulheres está ligado à proteção paternalista e que, em vários estágios da vida dela, ela muda de de protetores masculinos, mas nunca cresce o estado de infantilização de ser subordinada e de estar sobre tutela. Outras classes oprimidas e grupos foram impelidos para a consciência de classe pela sua própria condição de seu status de subordinação. Escravos podiam claramente marca uma linha entre os interesses e laços com suas famílias e laços de subserviência/proteção com o mestre. De fato, proteção dos escravos parentes de sua própria família contra os mestres foi uma das mais importantes causas das revoltas de escravos.
Mulheres “livres” por outro lado, aprenderam cedo que seus parentes lhe abandonariam caso elas se rebelassem contra sua dominação. Em sociedades tradicionais e camponesas há vários registros de mulheres da família que toleraram e até participaram de castração, tortura e até morte de meninas que transgrediram a “honra” da família. Nos tempos bíblicos a comunidade inteira se juntava para matar à pedradas as adúlteras. Práticas similares permaneceram na Sicília, Gŕecia e Albânia até no século 20. Em Bangladesh Pais e maridos expulsam suas filhas e mulheres que foram estupradas por soldados invasores, mandando elas para a prostituição. Assim, mulheres, são frequentemente forçadas a fugir de um “protetor” para outro, sua “liberdade” frequentemente definida apenas por sua habilidade de manipulação entre esses protetores. O maior indicativo de impedimento para o desenvolvimento de consciência de classe para as mulheres foi a ausência de tradição que reafirmariam a sua independência e autonomia e qualquer período. Nunca houve nenhuma mulher ou grupo de mulheres que vivem sem a proteção masculina, até onde a maioria das mulheres sabiam. Nunca houve nenhum grupo de pessoas como elas que tivessem feito qualquer coisa significativa para elas. Mulheres não tem história- é o que disseram; então elas acreditaram. Assim, finalmente, foi a hegemonia masculina sobre o sistema simbólico que mais decisivamente deixou as mulheres menos favorecidas"


domingo, 3 de julho de 2022

A Importância da Mulher / A Consciência de Si




Palestra
Por Rosa Leonor Pedro


Casa do Fauno, 25/06/22

Parte 1



Viemos muito mais cedo do que era suposto, para visitar a Casa do Fauno, mas foi mesmo em cima da hora. E uma das amigas que me trouxe perguntou se eu estava nervosa. Não estou nervosa, estou um bocadinho tensa. E a tensão vem do coração. Vem de que este tema que eu abordo, e a maneira como eu o abordo, é de facto completamente, digamos, espontâneo e ad hoc. Tenho aqui o texto escrito, que o Alexandre publicou, e aqui algumas notas vagas, mas normalmente falo conforme as pessoas que estão, conforme as pessoas querem, desejam, conforme as pessoas estão abertas, conforme o eco que eu sentir. Não sou propriamente eu que falo. Não estou a canalizar nada. Mas, digamos assim, não é a minha ideia, não é o meu discurso, nem é a minha narrativa que me importa, importa-me aquilo que aconteceu com o livro, que é falar ao coração das mulheres e de alguns homens sensíveis, que estão abertos, não só ao seu feminino, mas sobretudo à magia da mulher.

E eu penso que é extremamente urgente ressuscitarmos e falarmos e defendermos o valor da mulher porque estamos a sofrer muitas ofensivas, contraofensivas daquilo que se ganhou, daquilo que se evoluiu, embora não tenha sido totalmente verdade, a libertação, a emancipação da mulher, pelo menos em certa medida eram, mas agora estamos a sofrer uma ofensiva terrível, perniciosa, insidiosa e muito sinistra, que é reduzir a mulher àquilo que eles agora andam aí a publicitar; já não somos mulheres, somos sis. Sis género, que é: uma mulher que, se por acaso, se identifica como ser mulher e com corpo da mulher…porque, se eu nascer mulher e me der na cabeça que não estou muito bem na minha pele e gostava de ser homem, então já não sou mulher. E nós estamos neste resvalar para uma coisa tão horrenda, tão estúpida, sem fundamento algum, portanto eu tenho, de facto, uma consciência de que chegámos aqui porque a verdadeira mulher, a mulher real, a mulher integral, como eu gosto de lhe chamar, não existe há muito tempo. E porque ela não existe há mais de duas, três, quatro décadas, quer dizer, o que existia da mulher original, em termos substanciais, seria, como está aqui destacado, companheira, amante ou deusa iniciadora, que era a mulher mítica, mas que era adorada pelos Cavaleiros, pelos Templários, pelos trovadores que cantavam a musa, pelos poetas, e que também o homem respeitava enquanto mulher, sua mulher, mãe dos filhos. Tudo isso, digamos, converteu-se numa outra coisa, que, através da dita luta pela emancipação e igualdade da mulher com o homem, sem uma consciência ontológica, sem uma profunda consciência do que é o feminino, essência do feminino, transformou realmente a mulher num homem de saias. E portanto é fácil apanhar essa mulher e agora impingir-lhe uma série de conceitos e de ideias que as leva finalmente a alienar dessa sua essência e essa alienação da sua essência – que permite de alguma maneira, e eu vi, porque publiquei uma coisa que me escandalizou, que foi ver justamente um trans, que teria sido mulher, claro, porque teria um útero e tinha tido uma criança e era uma imagem monstruosa de um ser… lamento, mas mais parecia um bicho do que um ser, e não estou a falar para estar a deformar ou a dizer mal do ser, que tem a sua problemática, estou a pensar no sofrimento do próprio ser, que deixa de ser mulher, não é homem, não é nada, e depois vai ter uma criança que vai amamentar, meio homem, meio mulher, uma mãe que amamenta de barbas. Quer dizer, isto fere completamente, não só os preconceitos que ainda possamos ter, eu não sou uma pessoa conservadora ou religiosa, de maneira nenhuma, mas, e sou uma pessoa muito aberta, tenho um percurso de vivências dentro do mais abrangente que possa ser na compreensão do ser humano e das suas vicissitudes humanas, inclusive, isto não tem nada a ver com preferências sexuais, o ser humano é livre de ser hétero, homo ou o que quiser, só não deve ser livre é para mutilar-se e desnaturar a sua própria natureza e a da mulher. E portanto eu estou muito apreensiva e muito angustiada com o que se está a passar. E eu pergunto-me a mim mesma, mas porquê? Já tenho 75 anos, a caminho dos 76, vou cá estar pouco tempo, não vou ver nada de especial, mas porque é que eu teimo nisto? E eu teimo nisto porque a alma, como disse o Alexandre, a alma, é aquilo que se está a perder. É a mulher por excelência, é a anima. É a mulher que anima. É a mulher que é mãe. Eu espero que ninguém estivesse à espera que eu viesse falar de Alquimia, de alquimia o que vos posso dizer é esta frase fantástica de uma escritora, ela sim alquimista e também poeta, que diz: “A visão da mulher tem um papel importante na obra alquímica. A mulher que se vê companheira amante iniciadora é a projeção de um oposto a integrar nessa união superior a que se aspira. É a força transformadora, ela mesma transformada, em mineral, animal ou ainda um dos elementos, ou um astro, ou logo em divindade.” E, portanto, aquilo que é ênfase do meu discurso é de que é urgente e necessário que, tanto a mulher, como o homem defendam a sua identidade. Um homem é um homem, uma mulher é uma mulher, um homem nasce homem, uma mulher nasce mulher. Já basta os equívocos naturais da natureza, quando acontece haver algo dissonante, seja a nível hormonal, seja qualquer que seja, sabemos que há seres que nascem com os dois sexos ou sexo indefinido e tudo isso. A medicina opta normalmente pela vontade do pai, “Ai, eu quero menino”. Afinal, devia ser menina. Há tudo isso, como há o mito da Hermafrodita, o mito da Androgenia, realmente é uma coisa muito bonita porque seria a solução do conflito do casamento dos opostos, porque nós estamos a lidar com elementos opostos complementares, mas a maneira como nós vivemos em sociedade é sempre em oposição, não sabemos integrar os opostos.

Eu, ontem, vi um vídeo muito interessante de uma indiana que faz uma medicina integrativa e eu fui ver e curiosamente o que é que era, ela é de origem indiana, estuda os vedas e é Ayurvédaica e depois nasce em França, o país de Descarte, “Eu penso, logo existo” e juntou as duas coisas e então a medicina dela é baseada na alma e na integração de todos os opostos. Que é no fundo a alquimia, que é sempre o casamento dos opostos, rei e rainha.

Portanto, nada mais tenho a acrescentar em termos de alquimia, a não ser a força da energia, a vibração, o magnetismo, as forças cósmicas e telúricas que, na mulher, têm um exponente máximo e que está completamente calado e mudo e ocultado e foi esquecido. Para mim, nem que seja apenas uma pessoa aqui que acorde um pouco para a sua interioridade e, claro, seria melhor ler o livro, tem lá muita, muita informação e para mim foi uma dádiva muito grande ter podido realizar e concretizar este livro desta maneira e com a colaboração também da Zéfiro e do Alexandre, que é um homem muito especial, e assim espero que os homens que estejam aqui também sejam especiais, porque estão, porque não é muito comum, embora a alquimia seja mais comum ao homem do que à mulher interessar-se.

Portanto, o que é que eu vos queria dizer? É pôr a ênfase todo no feminino. As mulheres, e os homens no masculino. Porque a ideia de que um homem viril ou um homem másculo não tem feminilidade…Tem. Quanto mais feminino, mais viril, ao contrário destas nuances estúpidas que vêm justamente de não se conhecer o verdadeiro masculino, nem o verdadeiro feminino. Portanto a mulher foi masculinizada e agora estão a querer feminizar o homem. Por todas as vias e de todas as maneiras. A começar logo na criancinha. Portanto isto é assustador. E as pessoas dizem “Ah, mas não, que disparate!”. Mas a ofensiva é tão lacta, tão vasta, tão permanente e estão a atacar-nos de todo o lado, nas televisões, nos cartazes da rua, ao ponto de as escritoras, por exemplo, a escritora da saga “Harry Potter” está sempre a ser perseguida e condenada e todo o lobby gay a impedi-la de se manifestar e de se expressar, porque ela disse que é mulher. Simplesmente afirmou que era uma mulher.



Para além da questão do retrocesso nos quatro estados nos Estados Unidos em que já vai ser penalizado o aborto (não que eu seja a favor nem contra, porque é uma questão de consciência, é uma decisão que a mulher livre deve tomar em consciência) o problema não estava em abortar, estava em ter consciência. E há aqui uma coisa terrível, eu digo coisas terríveis, a ênfase que se pôs na sexualidade é tão excessiva foi uma manobra, e foi uma manobra de exploração da mulher, e a mulher caiu completamente nessa ratoeira, ela pensa-se um ser sexual. E hoje li uma coisa interessante: qual foi a forma ardilosa que o sistema teve, para converter a mulher, quando a mulher se começou a emancipar, com a sua liberdade, o que é que eles fizeram? Começaram a elogiar as mulheres libertinas, e então criou na mulher, na própria mulher, o sentimento que a mulher estava naquilo, aquilo que para as mães delas era abuso e violência, para elas, agora, era de livre vontade, já é liberdade, mas estão, na mesma, da mesma maneira, a corresponder apenas ao desejo do homem e à vontade social política e económica.

Toda a ênfase que nos possamos pôr no nosso feminino, na busca do nosso feminino, na compreensão da mulher, e tanto homens como mulheres é extremamente urgente. Se cada uma de nos hoje sair daqui com esta consciência que é nossa, que é vossa, que não sou eu que transmito porque ela está em nós, se eu puder acordar um pouco, ou estimular um pouco, o que for o caso.

Eu estava nesta angústia existencial nestes dias, não era por causa da palestra, mas foi engraçado que acordei a meio da noite e vi o telemóvel. E então tinha lá uma expressão de uma amiga brasileira, que respondeu a uma pergunta inconsciente e que teria a ver com esta palestra. E ela dizia: “O feminino não é um género. É uma dimensão.” É uma dimensão de consciência. E essa dimensão – se agora se fala tanto na 5ª dimensão, andamos todos a querer ascender, sem realizar sequer a terceira… fica tudo igual… os trabalhos dão trabalho…portanto, é essa dimensão do feminino que nós temos que alcançar. E ficamos todos a ganhar, não só as mulheres, como os homens também, porque os homens há muito tempo que estão desprovidos da companhia da verdadeira mulher. Em parte culpa deles, mas em parte também da mesma vitimização que as mulheres têm, da educação que se teve. Portanto, no meu livro eu falo de uma personagem absolutamente polémica, que é Lilith, e que, penso eu, por inspiração, nos ocorreu, me ocorreu, com a ajuda do Alexandre, na escolha do título “Lilith, a mulher primordial”. E há um momento em que eu pergunto: “E agora, como é que vais sair desta? O que é que te garante que ela é a mulher primordial? E como é que começamos a nossa busca?” Nós temos um ser, nós temos uma alma que constantemente nos está a apelar para a transcendência. O livro já foi publicado há dois anos. Felizmente, tem tido imenso sucesso. Tenho tido feedbacks fantásticos de mulheres comuns, não da área, não da área do feminino sagrado, são mulheres comuns, que vivenciaram na pele de alguma maneira esta divisão que a mulher sofre, está aqui uma mulher egípcia, e estávamos a falar um pouco nas mulheres no oriente e no ocidente… as diferenças serão assim tão abismais? Não serão, por assim dizer.

A questão fundamental do problema da mulher, todo o drama da mulher dentro do catolicismo, dentro das religiões patriarcais, que não é só o catolicismo, as religiões judaico-cristãs, muçulmana, árabe, etc., a hindu de alguma maneira, mas a hindu não tanto, porque a hindu não sofreu uma influência católica, mantém a mitologia hindu, mantém originalmente a história do mundo sem alteração, enquanto que as nossas mitologias, sobretudo a grega e a alemã foram totalmente adulteradas e escondidas e ocultadas pelos católicos, pela igreja, que destruiu centenas e centenas de bibliotecas e livros e livros apócrifos, que destruiu todo o património da humanidade em termos de conhecimento das nossas origens, de onde é que a gente veio, como é que tudo isto começou? Que é uma Mitologia. E de Adão e Eva. E para trás de Adão e Eva. Muito para trás. 40 Mil anos. Então é aqui que começa a mulher primordial. E realmente chegou-me às mãos recentemente, nem há um ano, um livro e um palestrante, um brasileiro, um homem sério, embora eu tenho sempre muita dificuldade com aqueles discursos de ascensão, mas ele veicula uma informação muito interessante e há um livro dele que se chama justamente “O Sorriso de Pandora”. E eis senão quando, ao ler o livro, e ao ouvir algumas palestras deste senhor, vim a descobrir que eu não sabia nada sobre o Mito de Pandora.

A ideia que nós temos de Pandora já é desvirtuada, já é negativa, já é intencionalmente destrutiva da mulher, que é: Pandora traz uma caixa de todos os males para o mundo. E é a mulher. Portanto a mulher é uma peste, a mulher é um demónio, Lilith é um demónio. E Pandora. E quem é Pandora? Então, tenho andado a rever o Mito. Pandora era uma das Deusas, supostamente filha de Zeus, nem sei se irmã, porque eles são bio dermes, não são seres biológicos e não têm polaridade sexual e portanto não há homens e mulheres, também não copulam, mas não sei como é que é; deve ser por ovos, plasma, ou sei lá, mas vivem aqui ao lado, ao nosso lado, num universo paralelo, e onde fazem as suas maldades, continuam a fazer, porque não morrem, nós é que morremos, porque nascemos de uma criação imperfeita, e estamos aqui a pagar um preço qualquer por um erro desse suposto criador, (eu disse que dizia coisas terríveis).

Então, quem é Pandora? Pandora é uma filha dele, supostamente, que gostava muito de vir à Terra, e eles têm a capacidade de se metamorfosear e onde é que ela vinha? Isto é pura loucura, não ouçam, ela adorava ir aos laboratórios químicos de Prometeu e Pimeteu, que estavam a criar umas criaturas muito interessantes… não estão a adivinhar quem seriam essas criaturas…? Porque eles eram deuses, ou demiurgos, gigantes, não morrem e estiveram na Terra durante milhares de anos, mas foi tudo isto que a igreja apagou, tudo o que não obedece cegamente e não faz o que a gente quer, sobretudo as mulheres.

Então, parece que a Pandora achava muita piada àqueles seres que eles estavam, em laboratório, a tentar criar, à revelia de Zeus, que só queria seres impregnados do seu ADN, ou do seu genoma. Então, apercebeu-se, ele tinha um contencioso muito grande com o Prometeu e o Pimeteu, mas aquilo leva muitos anos lá do outro lado, leva milhares de anos para qualquer coisa, porque eles não têm tempo nem espaço, nós é que andamos aqui à pressa, desculpem eu estar a rir, mas eu estou a rir-me de mim, da minha vida e da nossa concepção da vida e da história do mundo. E então ela gostava muito de passear nesse jardim, que poderia ser o tal laboratório, como o era Éden, também era um laboratório muito interessante, e por aí adiante, e eles gostavam muito de brincar com estes animais que viviam na Terra e fazer as suas brincadeiras, as suas experiências, ao ponto de Zeus, que acaba por ser Jeová, ou Brama, aborreceu-se e castigou a Pandora de vir à Terra à revelia dele, e ainda por cima ir ter com os inimigos dele. Então, fez com que ela fosse castigada e todos os deuses do Olimpo tinham de lhe dar um dom mau, negativo, de forma quando ela viesse à Terra destruir sobretudo …– a Caixa de Pandora afinal seriam tubos de ensaio com vírus para destruir aquela espécie que os outros estavam a criar.

Ela vem com todos esses malditos dons, mas também tinha uma característica, ela tinha de ser a mulher mais bela, mais sedutora, mais perversa, mais…absolutamente tudo que se pudesse imaginar de mais terrível pelo próprio Zeus sobre as mulheres ao longo da história, sobre nós, em geral.

E então, ela veio à Terra, castigada, por Zeus, e acabou por se apaixonar efectivamente por aquela espécie e tomou a poção da árvore do Bem e do Mal, que ele diz ser plantas xamânicas, que a converteu, de facto, na primeira mulher com essas características todas de beleza, mas que lutou toda a sua vida, que são milhares de anos, pelo menos vinte mil anos, em que o poder feminino, através desta mulher, dominou na Terra e criou o mito alusivo às Amazonas. Eu tive primeiro esta intuição, quando li isto e pensei, se calhar é o que corresponde às Amazonas e mais tarde este indivíduo diz que corresponde realmente ao nosso mito, contra as quais foram lutar os heróis greco-romanos, para dominar. A questão é então que Deus, Javé, Jeová, Brama, muito chateado com o poder da mulher durante 20 mil anos (lamento muito dizer, mas é um homem que diz isso) a mulher atingiu o grau de homo sapiens, neste caso devia ser humano sapiens, e o homem ficou num estadio um bocadinho sem pensar. E isso foi muito grave, por isso as comunidades eram de mulheres. Mas esses 20 mil anos pairam no nosso inconsciente, pairam no nosso ADN, nosso e dos homens, evidentemente, é toda uma história a levantar, a tentar perceber, porque entre os mitos modernos, os mitos católicos e os mitos daqui e acolá, o que é mais mito, menos mito? Há alguma coisa verdadeira? Não há. Neste momento, então, acabou tudo. E querem acabar connosco também Que é a vingança total.

Conclusão: lá Zeus conseguiu umas tribos que iam restando por aí, que existiam em certos sítios, ele foi buscar uma espécie qualquer, dentro do genoma que ele queria implantar e lá formou o Adão e Eva. Portanto, Lilith nem sequer é a primeira mulher de Adão. Ou melhor, vem muito antes de Adão e escolhe um primeiro par humano para procriar.

A partir desse momento, a procriação deixou de ser em ovos, em pormenor eu não sei, e a partir daí começou a haver esse equilíbrio entre a Mulher e o Homem com a finalidade de fazer evoluir o homem também, em relação àquilo que a mulher tinha descoberto, despertado, em termos de consciência individual humana, que estragou o propósito todo do dito Javé - Zeus é que nós humanos agora temos condições especiais para superá-los em Amor e em Bondade, que é aquilo que eles não têm de todo.

Se nós lermos a Bíblia, espero que não haja aqui ninguém cristão, lamento, mas não posso deixar de dizer isso, eu constatei isso ao longo de 30 anos, ou 40 ou 50, tudo o que eles dizem é contra a mulher, é mau demais, é feio demais, é destrutivo demais. E eu percebi isto. Deus não ama a mulher? O que é isto? “Porei a inimizade entre ti e a serpente, tu pisas-lhe a cabeça e ela morde-te o calcanhar. Dar-te-ei dores de morte para parir. Obedece ao homem”. Há uma passagem na Bíblia que é: Chega um homem, vizinho ou amigo do dono da casa, que está a ser perseguido por bandidos, ou o que for. E ele não faz mais nada: entra, entra; e manda as filhas entreter os homens. Claro que as filhas são violadas e mortas e acabou-se a história. Está tudo bem. E as pessoas leem a Bíblia com isto. E não se indignam.

Portanto, depois de toda esta ficção científica moderna, depois disto tudo, poderia concretamente falar-vos daquilo que é para mim o problema mais grave que a mulher sofre nesta atualidade sem qualquer tipo de informações, a nível nenhum, que é aquilo que eu chamo a cisão da mulher. Uma cisão que, à partida, divide a mulher em dois estereótipos, em dois arquétipos, digamos, e andamos aqui do caco para o caquinho, há anos e anos e décadas que andamos de um lado para o outro, ou seja, ou somos as santas do lar, os somos as prostitutas da rua, do bordel.

Isto vai evoluindo e depois, por fases, para nós há uma fase ascendente da New Age, que trouxe toda uma série de conceitos absurdos, estapafúrdios, que foi uma forma, para mim, armadilhada de apanhar a mulher novamente no culto de Deus, do mestre e sem passar pela integração da consciência de si e das duas mulheres divididas.

Esta cisão agora como é que ela se reverte? Vocês podem olhar e ver bem o que é que se passa. As nossas mães eram senhoras bem-comportadas, sofriam à brava e calavam, e calavam tudo, ou praguejavam. Nós começámos a falar. A minha geração rebelou-se. Eu andei a fugir à PIDE, para as mulheres votarem. Mas eram poucas mulheres. Pouquíssimas. E dizia poemas, e depois tive mesmo de fugir para Paris, para não me prenderem e para a minha mãe não ficar perdida, coitada. Mas fiz esse percurso todo e evoluí num certo sentido, ou o que fosse, e agora vejo que as mulheres mais novas, de 40 ou 50 anos, que eu pensava que já seriam as filhas da minha mãe, eu aos 50 anos ….digamos assim, as mulheres de 50 anos já deviam não ter passado por tudo o que eu passei, mas passaram, e as filhas, agora, estão do outro lado, ou seja, já não são as santas do lar, nem as esposas fiéis, nem as meninas bem-comportadas, e, se vocês olharem, eu digo isto, a maneira de vestir, não estou a reprovar, não é conceito, estou só a dar um exemplo de como a cultura, a tradição, como se invertem e não se transforma, nem muda nada.

Então a mulher achou que podia despir-se, é a marcha das vadias, ou as Femmen, vão para a rua nuas, e para os sítios e para as coisas, vão fazer mais do mesmo que têm feito delas, por vontade própria. Contra não sei o quê. Portanto, a rapariga moderna de hoje em dia está convencidíssima que é livre, e vai buscar o arquétipo oposto, e pela maneira de vestir nós verificarmos o qual é o retrato, digamos assim. Numa fase intermédia de idades, a minha mãe dizia: “Mas tu vais assim para a rua, que horror, e tu vais com essa roupa vestida!” Não, agora as adolescentes vão para a rua com calcões curtíssimos e as mães estão ao lado e os pais e anda toda a gente a passear e está tudo bem, como se não fosse nada.

Dizer isto parece o quê? Retrógrado? Conservador? Mas o instinto sexual e humano e do homem não muda. Ela olha e … E a mulher supostamente evoluiu, pensou que se tinha emancipado, mas o homem não se preocupou com isso, ele não precisou de se emancipar, ele manteve-se na mesma, e a visão que ele tem da mulher é a mesma que o pai tinha!

Agora, onde é que o homem sofre? Eu gosto muito de fazer este parêntese. Onde é que o homem sente esta cisão da mulher, a mulher sofre esta cisão diretamente na sua vida e no seu coração, em termos de: se for muito sensual, muito bonita, muto provocante, ai que horror, eu sou uma…como e que eu faço… é mais forte do que eu… e depois, se é casada… toda esta luta, e vice-versa …quantas prostitutas não desejariam ser donas-de-casa, madames. E passam a madames do bordel. Eu estou-me aa rir porque isto é quase caricato, a nossa vida, e nós levamos tudo isto a sério e continuamos a romantizar coisas tão absurdas.

Mas voltando a esta questão da cisão, todas as mulheres sofrem horrores, da sua adolescência…

Nós não medimos o sofrimento que nos é causado deste conflito interior, ao longo…até desde meninas, olhem para aquelas meninas lindas, que são depois mutiladas e mortas como esta criança foi, por miséria humana, vemos meninas lindíssimas, super sensuais, crianças, e, se olharem para essas meninas, no âmbito familiar, vocês vão ver o incómodo, a perturbação. Eu tenho uma amiga que se zangou comigo por causa do meu discurso, porque já tem 40 anos e ainda está fixa com o que ela sofreu, de menina… era ousada, atrevida, lindíssima, com uns cabelos fantásticos… e sofreu repressões do pai, do tio, … toda a gente a tratá-la mal, “Não vás assim…”

Ir contra a natureza selvagem e indómita da mulher, ir contra aquilo que a mulher tem no mais íntimo de si, que é o instintivo e o selvagem, é uma parte da natureza. Claro que é preciso ser educada, claro que é preciso ser protegida, mas não castrada. E tenho a certeza que não há aqui ninguém, nenhuma de nós, que não tenha sido ferida, tantas vezes, e algumas de morte por ser aquilo que os pais não querem, por ser aquilo que a sociedade não quer e de qualquer maneira não arranjou lugar nenhum, só se se vender ou submeter ao sistema, só se se sujeitar à ordem vigente em tudo, tudo, tudo, ou então disfarçar muito bem.

Algumas mulheres perguntam-me: “Então e depois de eu ter uma certa consciência de mim como mulher e conseguir conviver com essa mulher livre dentro de mim, que tem vontade de se expressar, como é que eu faço no emprego?”

Não atires à cara de ninguém, faz como as serpentes. Sê astuta. Não temos que…

Agora tenho outra amiga foi maltratada pela mãe, uma mulher cheia de fogo e de loucura, há muitos casos destes, até pela educação. Foi maltratada pelo marido, que terá sido preso e enfim…e vai fazer e vai-se vingar… Vai-se meter mais no mesmo. Ninguém ajuda nestes casos. A mulher está sozinha. E então, o que é que acontece? Fruto desta divisão, que foi uma divisão inteligentíssima, letal, dividiu-se a humanidade mulher em duas espécies de mulher que lutam uma contra a outra. Não há uma mulher que seja empática com a outra, estão sempre (entenda-se, a remorder/ criticar).

Como é que os homens sofrem, indiretamente, esta cisão das mulheres, entre casar com a menina séria, mas feia e chata, que o pai quer, ou casar com aquela gaja giríssima que ele viu ali na esquina. Também é um conflito, também é um problema, ele pode estar apaixonado por uma mulher proibitiva e vai ter de casar, como na Índia, como em todo o lado, com aquilo que foi uma encomenda, e vai ter que casar com a mulher séria, boa para o lar, que cuide dos filhos, que cuide da casa. Eu espero que os senhores não estejam muito incomodados com o meu discurso, porque o facto como os homens acabam por sofrer isto também é dramática, porque eles também sofrem ao longo da vida, e sofrem ainda muito mais, e é toda uma psicologia, uma psicose, toda uma neurose existencial coletiva, que é: os filhos da mãe e da puta. Não há pior ofensa, nem mágoa, para um homem do que ser chamado… porquê?

Essa cisão da mulher, em duas, que divide a mulher em duas espécies de mulheres, afeta o homem, indiretamente, porque ele ama a mãe, pelo menos a mãe, ele ama, à partida. E depois? Se a mãe não é realmente uma senhora? E é horrível. Eu conheço muita gente traumatizada, muita gente ferida, e aqui começam situações e cenas que a gente lê aqui e outros exemplos.

Basicamente, eu estou só a aflorar alguns aspetos, do meu discurso habitual, mas, sinceramente, eu não sou nada boa vendedora da cobra… da serpente… mas, sinceramente, aconselho o meu livro, porque este livro me ultrapassa e de facto tenho recebido sobretudo feedback de mulheres normais, digamos assim. Porque as inspiradas e mesmo as mulheres que se dizem do Sagrado e coisas assim… embora eu esteja de coração e alma com elas, porque na verdade até fui uma das pioneiras do começo, há vinte e tal anos, comecei com esta coisa do Sagrado Feminino, em Portugal não havia quase ninguém. Mas depois há toda uma consciência que se alrga...

Isto é, a Deusa não nos salva. Fia-te na virgem e não corras. Não é ninguém que nos salva. Somos cada um, homens e mulheres, que se salvam a si próprios. Portanto, a questão desta palestra ser a alma e a alquimia, é realmente aquilo que se está a perder. E queria saber o que se perdeu com o afastamento da mulher das profundezas, com essa mulher magnífica, magnânima, que era a mulher dos princípios, e eu pensava que a não conseguia localizar, e finalmente esta história da Pandora, da Caixa da Pandora, que eu vou investigar mais, a não ser que ela tenha mais alguma coisa para me dizer, para o próximo livro, é realmente a mulher primordial. E digo-vos, eu não sabia. Foi um risco poético, um título poético, a mulher primordial, que responde a todas estas dúvidas que eu vos suscitei. Não sou investigadora nem estudiosa, eu sou uma visionária da alma humana, devo ser uma alma muito velha e que teve este carma de vir falar para as mulheres acerca do feminino, porque as mulheres não falam delas.

Nesta Conferência da Deusa de 2022, percebi algo que me deixou muito triste… há 2 anos eram cerca de 200 mulheres, este ano foram cerca 60? E porquê? Porque cada uma delas que se julgou já com ”diploma” fez a sua própria “capelinha” (Espaços) onde são elas as mestras e, portanto, as mulheres nunca se juntam e continuam a dividir por coisas de nada e isso é lamentável.

(…)

Voltando, para terminar, à questão da anima, a mulher é anima, é a nossa alma, é a alma que anima o homem, não quer dizer que o homem não tenha alma, tem, Jung disse que era o animus, mas depois inverteu aqui os factores, baseado certamente na questão das polaridades a integrar e disse que o homem era a anima e que a mulher representava o animus, porque ele não sabia desta cisão, não sabia da mulher, tal como Freud não sabia da mulher, nem nada, ele próprio diz: “Ao fim de 30 anos, eu não sei o que é que a mulher quer”.

A história tem muito para nos ensinar.

A EXCELENTE TRANSCRIÇÃO DE AUDIO PARA ESCRITA FOI FEITA POR
FATIMA REMÉDIOS a quem agradeço a disponibilidade e a fidelidade ao discurso...

O DRAMA DO HOMEM

"E toda a mulher é uma mãe, real ou potencial" (O homem é, com efeito, um ser incompleto e tem consciência disso. ) "À força ...